quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Texto revolucionário

Este texto era para ser revolucionário. Era suposto ter uma qualquer revelação bombástica que vos fizesse explodir de entusiasmo. Era suposto ter uma daquelas revelações tão simples que nunca pensámos que seria possível algo tão complicado ser assim tão simples. Tinha pensado num texto em que essa tal revelação se formasse na vossa mente como por encanto, sem se aperceberem, para depois ficarem boquiabertos durante uns segundos enquanto reflectiam sobre o assunto. Era para ser um daqueles textos que ficam na primeira página de um blog durante semanas seguidas, e em que a caixa de comentários se transforma num fórum ou até numa sala de chat, lenta e aborrecida, mas fervilhante de opiniões construtivas e boas ideias.
Estão a ver o estilo?

Epá, isto ia ser um texto mesmo revolucionário!
Mas afinal nunca passou disso mesmo: do “ia ser”.
Eu, por exemplo, ia sendo arquitecto, mas só consegui chegar ao 12º ano, com uma média miserável e sem a matemática feita. Tal como este texto, o ideal era bom, mas a sua realização nunca passou de uma tremeluzente miragem.
Podia ter-me esforçado e ter feito a matemática, não é? E também podia ter-me esforçado e ter pensado numa ideia brilhante para elevar este texto ao estatuto de “texto revolucionário”, que era essa, afinal, a razão da existência deste dito cujo. O problema é que estou cansado. Extenuado, esgotado, exaurido fisicamente, o que se reflecte de sobremaneira na minha capacidade imaginativa, e penso, assim acontecerá com todos. A verdade é que este texto não é revolucionário simplesmente porque as condicionantes exteriores a ele não lho permitiram ser.

É, contudo, um bom texto. Bem redigido, bem pontuado, fluído, enfim, bem construído. E mais importante que tudo: existe. Sem grande conteúdo à primeira vista, é certo, mas existe. No entanto, não é à primeira vista que nos apercebemos da verdadeira natureza das coisas, pois não?

E aqui está a desejada revelação: este texto lembra-me todas as pessoas que conheço.
Lembra-me, principalmente, a mim mesmo.

domingo, 25 de janeiro de 2009

O Choro do Rapaz...

As lágrimas caem-lhe pela face, lavando o desespero que nele se aprisiona, mas abafando a tristeza.
Não as conta, mal as sente... caem-lhe tão rapidamente que o afogam em mágoa e dor.
Sufocam os seus gemidos, suspendem por breves momentos a sua descontrolada respiração.
Ele não quer mostrar suas lágrimas, elas não vieram por querer, ele não as chamou...
Mas elas ainda assim vieram, não tiveram piedade de um jovem humilde de alma e coração, que sem saber do futuro incerto se angustia pelo presente agreste.

Não porque lhe falte amor, mas porque lhe falta tempo, espaço, consentimento, sabedoria e consistencia para viver o seu amor.
Sem isso o amor não pode manifestar-se da mesma forma, e em tempos árduos ele faz falta,
muita falta...



E ele sente isso tão forte que suas lágrimas corriam pela cara e caíam no chão como rios que correm com seu vigor em direção ao mar.
Suas mãos estavam trémulas, tal como seu corpo, como se tivesse frio... sua capacidade de agir era diminuta, quase não existia... não sentia coragem para continuar, talvez não soubesse como o fazer.
A saudade mata, e ele sabia disso, mas nunca pensou que um dia se iria sentir ao pé do precipício, nunca imaginou que fosse acontecer a ele.



Há momentos de força e momentos de fraqueza, e ele encontrava-se num momento de fraqueza sem capacidade de reação... e a sua tristeza emanava tão forte do seu peito que as flores que tinha numa jarra junto a si murcharam e perderam toda a sua cor e perfume, e num ápice se transformaram em simples cinzas...
O rapaz olha agora à sua volta e tenta procurar o que sabe que só depende dele encontrar... um porto de abrigo, onde possa chorar de vez em quando mas sem o perigo de se afogar.



O sentimento de perda invadia sua alma tão profundamente que parecia retirar a vida daquele pobre rapaz, que à sombra da sua existência procurava perder-se para sempre, para nunca mais o encontrarem...

Os seus sonhos já nada podem salvar e dão como perdida essa batalha que tantas lágrimas custou.

Mas o seu amor não deixava aquele coração morrer... e perder-se na imensidão das trevas...

Aquele rapaz precisava renascer... precisava viver a felicidade que toda a vida pensou não existir.

Ele só não percebia porque tinha de sofrer para amar, porque tinha de sentir tanto o vazio... a falta de alguém... porque doía tanto... ele não sabia responder.

Por vezes parecia que tudo se virava contra ele.... parecia que o mundo estava contra a sua felicidade...

Mas apesar de não saber, a força que vinha dentro dele era mais forte que mil homens... mais forte que o oceano e o vento juntos.... mais forte que a própria natureza, ele amava um anjo... e esse anjo o amava também... e juntos queriam ficar, para sempre.... nada nem ninguém iria conseguir impedir....

Ele faria tudo.... qualquer coisa para que nada... mesmo nada mudasse no amor que o seu anjo jurava sentir por ele... isso era tudo o que o fazia viver, era tudo o que o prendia à vida... sem isso a sua vida não tinha valor... ele não era a mesma pessoa.... jamais seria feliz, jamais conseguia sentir o calor do sol, a rebentação das ondas na areia, o vento a acariciar a sua cara... jamais a vida poderia ter sentido...



Com as suas lágrimas quase secas.... ergueu suas mãos ao céu, e num acto de inocência e quase desespero disse:

"Se um dia meu anjo não me quiser mais, leva-me desta vida de qualquer jeito, mas não me deixes sofrer por este amor, isso seria mil vezes pior que morrer..."

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Quando achamos que chegou ao fundo do poço...

... cuidado. Pode piorar. Pode ser mais fundo. Bem mais fundo.

Como aquela sensação de perda de gravidade. Quando se pensa que a escada acabou, e tem mais um degrau. E sente se aqueles segundos de queda, livre, por alguns milésimos de segundos. Sem sentido, sem apoio, sem base.





Quando não se espera, no mar, uma onda. Que te acerta de lado, no ouvido, e te vira de cabeça para baixo no fundo do mar. O gosto de sal na boca, areia nos olhos, no cabelo. A sensação de não ter sensação alguma, sem ter direcção. Segundos eternos de confusão mental.

Sensação de desespero, de sufocamento, de aperto no peito. Um tremor, noites sem sono, pânico.

Espero poder sobreviver ao pesadelo negro, oleoso, pesado. Espero poder apagar alguns dias da minha vida. Esquecer é uma dádiva.




Posso estar errado, mas um dia vou lutar por minha vida simples. No campo, ilhado.